Entre o Mistério e o Vivido: As Interpretações sobre a Natureza Amazônica nas Obras de Gastão Cruls
DOI:
https://doi.org/10.32991/2237-2717.2023v13i3.p163-205Palabras clave:
Amazônia, Gastão Cruls, natureza, representaçõesResumen
Este artigo analisa as representações textuais sobre a natureza amazônica nas obras do médico e escritor Gastão Cruls (1888-1959). O objetivo consiste em identificar como o escritor construiu em suas obras representações sobre a região amazônica, a partir dos diferentes contextos de produção e publicação, das experiências vivenciadas, leituras e impressões próprias sobre os processos que ocorriam no período. Selecionamos três obras, que julgamos serem essenciais para entender o pensamento de Gastão Cruls sobre a Amazônia: A Amazônia Misteriosa (1925); A Amazônia que eu vi: Óbidos – Tumucumaque (1930) e Hiléia Amazônia (1944). O romance A Amazônia Misteriosa marcou a ascensão do escritor no círculo literário nacional. A repercussão de seu romance e suas relações sociais o permitiram ingressar como climatologista no Serviço de Inspeção de Fronteiras, agência pela qual realizou sua primeira excursão pela Amazônia, entre o final de 1928 e início de 1929. Cerca de dez anos depois, em 1938, foi comissionado pelo Estado Novo para viajar novamente para a região com a intenção de escrever um livro inédito. As “Amazônias” de Gastão Cruls, seja a idealizada – quando o autor ainda não conhecia a região – ou experienciada, foram fundamentadas em um arcabouço de ideias consolidadas, que mesclaram-se com sua própria forma de descrever e representar as paisagens amazônicas. Portanto, a análise contribui para identificar as formas e estilos em como a região amazônica foi representada na literatura e no pensamento social brasileiro.
Citas
Agripino Grieco, “A Amazonia que eu vi”, O Jornal, 27 de fevereiro de 1930, 2.
Alberto Rangel, Inferno Verde: Cenas e cenários do Amazonas (Manaus: Editora Valer, 2001).
Ana Maria Daou, A Belle Époque amazônica (Rio de Janeiro: Zahar, 1999).
Ângela de Castro Gomes, “Estado Novo: debatendo nacionalismo, autoritarismo e populismo”, In Jorge Ferreira; Lucília Almeida Neves Delgado, O Brasil republicano – vol. 2: o tempo do nacional-estatismo: do início da década de 1930 ao apogeu do Estado Novo, (Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2019), 191-221.
Antônio Augusto Alves de Souza, O Paiz, “O Paraíso Verde”, 19 de junho de 1926, 3.
A Manhã, “Cursos de português e literatura brasileira para jovens argentinos”, 2 de dezembro de 1945, 7.
A Manhã, “Um fruto calumniado”, 7 de dezembro de 1926, 3.
Armando de Souza Mello Ararigboia a Gustavo Capanema, 29 de dezembro 1944, Arquivo Gustavo Capanema, série Ministério da Educação e Saúde, GC g 1934, Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil da Fundação Getúlio Vargas, Rio de Janeiro.
Bárbara Weinstein, Modernidade tropical: visões norte-americanas da Amazônia nas vésperas da Guerra Fria, Revista do IEB (set., 2007): 153-176.
Bárbara Weinstein, A borracha na Amazônia: expansão e decadência (1850-1920) (São Paulo: Hucitec/Edusp, 1993).
Benjamim Costallat, “Os homens de imaginação”, Jornal do Brasil, 23 de maio de 1930, 5.
Camila Soares López, “Mercure de France: de Donneau de Visé à Alfred Vallete, da série moderne à maison d’édition”, Faces da História 1, 1 (ago., 2014): 51-70.
Cândido Mariano da Silva Rondon, “A inspecção das fronteiras”, O Paiz, 12 de maio de 1929, 1.
Carlos Augusto da Rocha Freira, Rondon: a construção do Brasil e a causa indígena (Brasília: Abravideo, 2009).
Carlos de Lima Cavalcanti a Anísio Teixeira, 4 de junho 1935, Arquivo Anísio Teixeira, série Correspondência, AT c 1935. 06.04/2, Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil da Fundação Getúlio Vargas, Rio de Janeiro.
Cláudio Silveira Maia, “Pedras perdidas: o decadentismo e a visão pós-colonial de Gastão Cruls,” (Doutorado, tese, Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários da Faculdade de Ciências e Letras da Universidade Paulista Júlio de Mesquita Filho, Araraquara, 2009).
David Arnold, La naturaleza como problema histórico: el medio, la cultural y la expansión de Europa (México: Fondo de Cultura Económica, 2000).
Diário da Manhã, “O escritor Gastão Cruls falou ao “Diário da Manhã”, 26 de janeiro de 1929, 2.
Dominichi Miranda de Sá, A ciência como profissão: médicos, bacharéis e cientistas no Brasil (1895-1935) (Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2006).
Dulce Chaves Pandolfi, “Os anos 1930: as incertezas do regime”, In Jorge Ferreira; Lucília Almeida Neves Delgado (org.), O Brasil republicano – vol. 2: o tempo do nacional-estatismo: do início da década de 1930 ao apogeu do Estado Novo (Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007).
Euclides da Cunha, Um Paraíso Perdido: ensaios, estudos e pronunciamentos sobre a Amazônia (Rio de Janeiro: José Olympio Editora/Fundação do Desenvolvimento de Recursos Humanos, da Cultura e do Desporto do Governo do Estado do Acre, 1986).
Flora Süssekind, O Brasil não é longe daqui: o narrador, a viagem, (São Paulo: Companhia das Letras, 1990).
Francisco Foot Hardman, A vingança da Hileia: Euclides da Cunha, a Amazônia e a literatura moderna (São Paulo: Unesp, 2009).
Gastão Cruls, “A “roda” de Antônio Torres, no “Bar Nacional”. In Luís da Câmara Cascudo, Antologia da alimentação no Brasil (São Paulo: Global Editora, 2014), 266-269.
Gastão Cruls, A Amazônia que eu vi: Óbidos – Tumucumaque, 5ª Edição (Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora/Instituto Nacional do Livro, 1973).
Gastão Cruls, A Amazônia Misteriosa, 9ª Edição (Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora/Instituto Nacional do Livro, 1973).
Gastão Cruls, Hiléia Amazônica: aspectos da flora, fauna, arqueologia e etnografia indígena (São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1955).
Gastão Cruls, Impressões de uma visita à Companhia Ford Industrial do Brasil, Revista Brasileira de Geografia 1, 4, (out., 1939): 3-22.
Getúlio Vargas, “Discurso do Rio Amazonas”, Revista Brasileira de Geografia 4, 2 (Abril/Junho 1942): 259-262.
Getúlio Vargas, A Nova Política do Brasil, Volume V (Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1938).
Getúlio Vargas, A Nova Política do Brasil, Volume II (Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1938).
Governo do Brasil, Ofício do Ministério da Fazenda de 9 de agosto 1938, Diário Oficial da União, 18 de agosto 1938. Disponível em https:/www.jusbrasil.com.br/diarios/2385362/pg-10-secao-1-diario-oficial-da-uniao-dou-de18-08-1938>. Acesso em 7 de janeiro de 2021.
Governo do Brasil, Ofício do Ministério da Guerra de 23 de agosto de 1928, “Autoriza o Dr. Gastão Luiz Cruls a acompanhar o general Cândido Mariano Rondon na viagem de inspeção às fronteiras do norte do Brasil”, Diário Oficial da União, seção 1, 23 de agosto de 1928.
Herbert Baldus, Métodos e Resultados da ação indigenista no Brasil, In Egon Schaden, Homem, Cultura e Sociedade no Brasil: seleções da Revista Antropologia (Petrópolis: Editora Vozes, 1972), 209-229.
Isabel Cristina Martins Guillen, “A Batalha da Borracha: propaganda política e migração nordestina para a Amazônia durante o Estado Novo”, Revista de Sociologia e Política 9, (1997), 95-102.
João de Sousa Ribeiro Filho, Dicionário Biobibliográfico de Escritores Cariocas (1565-1965) (Rio de Janeiro: Livraria Brasiliana Editora, 1965).
João Marcelo Ehlert Maia. “As Ideias que fazem o Estado andar: Imaginação espacial, pensamento brasileiro e território no Brasil Central”, Dados – Revista de Ciências Sociais 53, 3, (2010): 621-655.
Jornal do Brasil, “Hiléia Amazônica”, 25 de fevereiro de 1945, 1.
Jornal do Brasil, “A projeção universal da Amazonia”, 8 de setembro 1938, 5.
José Augusto Pádua, “As bases teóricas da história ambiental”, Estudos Avançados, 24, 68, 2010, 81-110.
Júlio César Schweickardt; Nísia Trindade Lima, Do “inferno florido” à esperança do saneamento: ciência, natureza e saúde no estado do Amazonas durante a Primeira República (1890-1930), Boletim Museu Paraense Emílio Goeldi 5, 2, (aug., 2010), 399-415.
Keith Thomas, O homem e o mundo natural (São Paulo: Companhia das Letras, 2010).
Kevin J. Avery, “A historiography of the Hudson River School”, In Kevin J. Avery et al., American Paradise: The World of the Hudson River School (New York: Metropolitan Museum of Art, 1987), 3-20.
Luciana Murari, “Tudo o mais é paisagem: representações da natureza na cultura brasileira” (Doutorado, tese, Universidade de São Paulo, 2002).
Luiz Fernando Souza Santos, “Amazônia: das ideias de paraíso às ideias de ecossistema” In Élide Bastos Rugai; Renan Freitas Pinto (org.), Vozes da Amazônia: investigação sobre o pensamento social brasileiro (Manaus: Editora da Universidade Federal do Amazonas, 2008), 377-418.
Marco Aurélio Coelho Paiva, “A ordem e a desordem da natureza: o sertão e a Amazônia em Gastão Cruls”, Sociologias 21, 51, (mai./ago., 2019), 242-276.
Marcos Chor Maio; Magali Romero Sá, “Ciência na periferia: a Unesco, a proposta de criação do Instituto Internacional da Hiléia Amazônica e as origens do Inpa”, História, Ciências, Saúde-Manguinhos 7, suplemento (set., 2000), 975-1017.
Maria Helena Capelato, “O Estado Novo: o que trouxe de novo?”, In Jorge Ferreira; Lucilia Almeida Neves Delgado, O Brasil republicano – vol. 2: o tempo do nacional-estatismo: do início da década de 1930 ao apogeu do Estado Novo (Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007), 113-153.
Maria Liege Freitas Ferreira, “A construção do Eldorado amazônico no governo Vargas: a representação através da imagem (1940-1945)” (Doutorado, tese, Faculdade de Ciências e Letras da Universidade Estadual Paulista, 2011).
Maria Veronica Secreto, “A ocupação dos “espaços vazios” no governo Vargas: do “Discurso do rio Amazonas” à saga dos soldados da borracha”, Estudos Históricos 10, 40 (out., 2007), 115-135.
Mary Louise Pratt, Imperial Eye: Travel, Writing and Transculturation (London/New York: Routledge, 1992).
Monica Pimenta Velloso, “Os intelectuais e a política cultural do Estado Novo”, In Jorge Ferreira; Lucília Almeida Neves Delgado, O Brasil republicano – vol. 2: o tempo do nacional-estatismo: do início da década de 1930 ao apogeu do Estado Novo, (Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007), 154-187.
Monica Pimenta Velloso, “Cultura e Poder Político: uma configuração do campo intelectual”, In Lucia Lippi de Oliveira; Monica Pimenta Velloso, Ângela de Castro Gomes, Estado Novo: Ideologia e Poder (Rio de Janeiro: Zahar, 1982), 71-108.
Neide Gondim, A invenção da Amazônia (São Paulo: Marco Zero, 1994).
O Globo, “Homens e paizagens do inferno verde”, 9 de setembro 1938, 1.
O Globo, “Bibliothecario da Universidade do Districto Federal", 22 de janeiro de 1936, 2.
O Paiz, “Propaganda do Espírito”, 8 de março 1929, 3.
Otávio Guilherme Velho. Capitalismo autoritário e campesinato: um estudo comparativo a partir da fronteira em movimento (Rio de Janeiro: Centro Edelstein de Pesquisas Sociais, 2009).
Péricles Moraes, Os intérpretes da Amazônia (Manaus: Valer/Governo do Estado do Amazonas, 2001).
Raymond Williams, “Ideias sobre a natureza”, In Raymond Williams, Cultura e Materialismo (São Paulo: Editora Unesp, 2011).
Renan Freitas Pinto, A viagem das ideias, Estudos Avançados 19, 53, (abr. 1997), 97-114.
Renard Perez, “Vida de Escritores: Gastão Cruls”, Correio da Manhã, 8 de outubro de 1955, 8.
Renato Rodrigues de Lima Júnior, “O refratário e abnegado José Severiano de Rezende” (Mestrado, dissertação, Instituto de Estudos da Linguagem da Universidade Estadual de Campinas, 2002).
Roberto de Sousa Causo, Ficção científica, fantasia e horror no Brasil, 1875 a 1950 (Belo Horizonte: Editora UFMG, 2003).
Roger Chartier, Defesa e Ilustração da noção de representação, Fronteiras 13, 25, (jul./dez., 2011), 15-29.
Roger Chartier, O mundo como representação, Estudos Avançados 11, 5, (jan./abr., 1991), 172-191.
Rubem Braga, “Gastão Cruls, O Amazônico”, Revista Manchete, (out., 1953): 34-35.
Sérgio Miceli, Intelectuais e Classe Dirigente no Brasil (1920-1945) (Rio de Janeiro: DIFEL, 1979).
Tânia Regina de Luca, A Revista do Brasil: um diagnóstico para a (N)ação (São Paulo: Fundação Editora da Unesp, 1999).
Thomas Elliot Skidmore, Brasil: de Getúlio Vargas a Castelo Branco, 1930-1964 (Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007).
Vítor da Matta Vivolo, “Gastão Cruls e a auscultação da sociedade brasileira,” (Mestrado, dissertação, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2017).
Descargas
Publicado
Cómo citar
Número
Sección
Licencia
Derechos de autor 2023 Matheus Villani Cordeiro Cordeiro, Rômulo de Paula Andrade
Esta obra está bajo una licencia internacional Creative Commons Atribución-NoComercial 4.0.
Esta revista ofrece acceso libre inmediato a su contenido, siguiendo el principio de que disponibilizar gratuitamente el conocimiento científico al público proporciona mayor democratización mundial del conocimiento.
A partir de la publicación realizada en la revista los autores poseen copyright y derechos de publicación de sus artículos sin restricciones.
La revista HALAC sigue los preceptos legales de la licencia Creative Commons - Atribución-NoComercial 4.0 Internacional.