Uma História dos Caramujos em um Regime Vetorial de Doenças: Entre a Esquistossomose, a Big Pharma e a Tecnociência (1948-2022)
DOI:
https://doi.org/10.32991/2237-2717.2024v14i3.p136-153Palabras clave:
snails, history of animals, technoscience, agency, schistosomiasisResumen
O ensaio visa elaborar uma história dos caramujos, especificamente aqueles que são os hospedeiros intermediários do Schistosoma, parasita causador da esquistossomose, considerada endêmica no Brasil e classificada como doença tropical negligenciada. A doença ganhou maior visibilidade a partir dos anos 1940, com uma mobilização nacional e internacional, via Organização Mundial da Saúde (OMS) e pesquisadores brasileiros da parasitologia, em torno do seu enquadramento como problema de saúde pública. Argumenta-se haver um conjunto de interações entre humanos e esse animal, em um “agenciamento material e recíproco” (Carlos Maia) que envolve respostas dos caramujos às provocações colocadas pela tecnociência e pelo complexo industrial-farmacêutico, que incluem essa doença em um regime vetorial. Mesmo que a esquistossomose seja uma doença atrelada à pobreza e às mazelas do capitalismo, nota-se uma agenda de pesquisas e da saúde pública que é moluscocêntrica. O próprio enquadramento da enfermidade como “vector-borne diseases”, pela OMS, é um elemento dessa centralidade e de como ela orbita em torno do caramujo. As fontes históricas que emanam da OMS e do Banco Mundial ajudam a demonstrar como organizações internacionais engendram forças em escala global em torno desse regime vetorial da doença. Este texto também percorre outras visadas e outros horizontes de agenciamento com o animal, como os promovidos pelo médico sanitarista Frederico Simões Barbosa (1916-2004). O ensaio conclui pela demarcação da historicidade dos processos de interação entre humanos e caramujos e sobre como uma doença é capaz de demonstrar as múltiplas confluências culturais, econômicas, políticas e ontológicas entre ambos.
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