Dar Nome aos Bois: Animais e o Espelhamento da Modernidade (Natal, Séculos XIX-XX)

Autores

DOI:

https://doi.org/10.32991/2237-2717.2024v14i2.p393-419

Palavras-chave:

estudos sobre os animais, história urbana, modernidade, Natal-Brasil

Resumo

O artigo objetiva compreender o papel dos animais frente ao processo de modernização da cidade do Natal entre fins do século XIX e início do XX. A partir da segunda metade do século XIX, cronistas e articulistas externavam, em seus artigos, o desejo da remodelação física da capital do Rio Grande do Norte de acordo com o ideal de urbanidade civilizatório europeu. Na medida em que esse ensejo era concretizado e a cidade se transformava, a relação entre os Homens e Animais igualmente se alteram, produzindo novas tensões e conflitos. Com aporte teórico-metodológico dos Estudos sobre os animais e da História Ambiental, o trabalho retoma fontes documentais amplamente utilizadas na historiografia potiguar, em especial os jornais de ampla circulação local, contudo enfatizando os chamados “invisíveis a plena vista”, nas palavras de Thomas Almeroth-Williams: os animais integrantes do cotidiano da cidade potiguar ao redor das funções de alimentação e de transporte, além de gatos e cachorros. A presença dos animais nos relatos aponta para representações antimodernas; indesejáveis, porém necessários, os bichos eram usados em analogias pejorativas, usadas para criticar atitudes e posições políticas, ou em episódios factuais a fim de enfatizar problemas urbanos. Ademais, a presença dos animais reforçava a ideia de atraso, com inferências coloniais, de encontro a uma cidade que se esforçava em se inserir no mundo capitalista ocidental.

Referências

Fontes primárias

“A Capital III. A praça da Republica”, O Caixeiro, ano 1, n.16 (23 novembro 1892).

Alfarrabista, “Coisas velhas”, A Republica, ano 14, n.215 (7 outubro 1902).

“Animaes soltos”, A Republica, ano 19, n.114 (31 maio 1907).

Arthur Azevedo, “Henrique Castriciano”, A Republica, ano 19, n.234 (4 novembro 1907).

“Balmaceda e o lixo”, A Republica, ano 3, n.124 (1 agosto 1891).

“Com o fiscal”, A Republica, ano 19, n.117 (4 junho 1907).

“Comentando”, Diario do Natal, ano 17, n.3.405 (8 abril 1908).

“Edital”, Gazeta de Natal, ano 1, n.13 (11 fevereiro 1888).

“Gatos e cães”, Diario do Natal, ano 17, n.3.466 (13 junho 1908).

“Inspector de hygiene”, O Estado, ano 1, n.12 (16 dezembro 1894)

Intendência Municipal da cidade do Natal [1893]. “Resolução n.4”. A República (07. jan. 1893), in A Intendência e a Cidade: fontes para o estudo da gestão da cidade de Natal, ed. Raimundo Arrais; Raimundo Nonato Araújo Rocha; Helder do Nascimento Viana (Natal: EDUFRN, 2012).

Joaquim Barboza Cordeiro Castro, “Solicitadas”, Gazeta do Natal, ano 3, n.162 (12 abril 1890).

Juca, “Ao som da viola”, Diario do Natal, ano 18, n. 3.743 (17 julho 1909).

“Lagoa Manoel Felipe”, A Republica, ano 14, n.208 (27 setembro 1902).

Leopoldo Sousa, “Grande Seculo”, Diario do Natal, ano 18, n.3.529 (12 setembro 1908).

Liberio. “Piadas”, Diario do Natal, ano 15, n.3.012 (21 agosto 1906).

“Limpesa publica”, A Republica, ano 14, n.180 (25 agosto 1902).

“Limpesa publica”, A Republica, ano 3, n.92 (1 janeiro 1891).

“Notas sportivas”, A Republica, ano 21 (27 dezembro 1909).

“O lixo”, A Republica, ano 14, n.92 (1 maio 1902).

“Os gatos”, Diario do Natal, ano 16, n.3.188 (3 maio 1907).

“Passagem do Rio Salgado”, Diario do Natal, ano 15, n.3.053 (18 outubro 1906).

“Pela carril”, Diario do Natal, ano 18, n.3.721 (15 junho 1909).

Polycarpo Feitosa [1899], Vida Potyguar (Natal: Sebo Vermelho, [s.d.]).

Rapido. “Instantaneas”, A Republica, ano 3, n.185 (16 setembro 1897).

“Regras para viver muito”, A Republica, ano 19, n.188 (5 setembro 1907).

Scipio, “Cinema”, Diario do Natal, ano 18, n.3.815 (4 novembro 1909).

Sem título, A Republica, ano 15 (13 abril 1903).

Sem título, A Republica, ano 3, n.125 (8 agosto 1891).

“Theatro a vapor. Assemblea dos bichos. Scena fantástica”, Diario do Natal, ano 14, n.3.160 (21 março 1907).

Y [pseudônimo de Henrique Castriciano]. “Pro anima vilis”, A Republica (22 setembro 1906), in Seleta: textos e poesia, ed. José Geraldo Albuquerque (Natal: s.n., 1993):202.

BIBLIOGRAFIA

Chris Philo; Chris Wilbert, “Animal spaces, beastly places: an introduction”, in Animal spaces, beastly places: new geographies of human-animal relations, ed. Chris Philo; Chris Wilbert (London: Routledge, 2000), 1-34.

Clemens Wischermann; Philip Howell, “Liminality: A Governing Category in Animate History”, in Animal History in the Modern City. Exploring Liminality, ed. Clemens Wischermann; Aline Steinbrecher; Philip Howell (London: Bloomsbury Academic, 2019), 1-24.

David Gary Shaw, “A way with animals”, History and Theory, n. 52 (December 2013), 1-12. https://www.jstor.org/stable/24542955.

Dorothee Brantz, “Animals in Urban-Environmental History”, in Concepts of Urban-Environmental History, ed. Sebastian Hauman; Martin Knoll; Detlev Mares. (Bielefeld: transcript Verlag, 2020), 192-201.

Dorothee Brantz, “Urban (and Rural History)”, in The Handbook of Historical Animal Studies, ed. Mieke Roscher; André Krebber; Brett Mizelle. (Berlin: Gruyter, 2021), 243-257.

Erica Fudge, “A left-handed blow: writing the history of animals”, in Representing animals. Theories of Contemporary Culture, ed. Nigel Rothfels (Bloomington: Indiana University Press, 2002), 3-18.

Gabriel L. Paulo Medeiros, “A cidade interligada: legislação urbanística, sistema viário, transportes urbanos e a posse da terra em Natal (1892-1930)”. (Tese de doutorado, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, 2017).

Luís da Câmara Cascudo, História da Cidade de Natal (Natal: IHGRN, 1999).

Márcia Marinho, Natal também civiliza-se: sociabilidade, lazer e esporte na Belle Époque natalense (Natal: EDUFRN, 2011).

Martha Few; Zeb Tortorici (ed.), Centering animals in Latin America History (Durham/London: Duke University Press, 2013).

Mieke Roscher; André Krebber; Brett Mizelle, “Introduction”, in The Handbook of Historical Animal Studies, ed. Mieke Roscher; André Krebber; Brett Mizelle. (Berlin: Gruyter, 2021), 1-20.

Natascha Stefania Carvalho Ostos. “A luta em defesa dos animais no Brasil: uma perspectiva histórica”, Cienc. Cult. 69, n. 2 (abril 2017), 54-57, http://cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0009-67252017000200018.

Phillip Howell, “Historical Animal Geographies”, in The Handbook of Historical Animal Studies, ed. Mieke Roscher; André Krebber; Brett Mizelle. (Berlin: Gruyter, 2021), 309-324.

Sean Kheraj, “Urban Environments and the Animal Nuisance”. Urban History Review 44, n.1-2 (2015), https://doi.org/10.7202/1037235ar.

Susan Nance (ed.), The Historical Animal. (Syracuse: Syracuse University Press, 2015).

Thomas Almeroth-Williams, City of Beasts. How animals shaped Georgian London (Manchester: Manchester University Press, 2019).

Downloads

Publicado

2024-06-28

Como Citar

Simonini, Y. (2024). Dar Nome aos Bois: Animais e o Espelhamento da Modernidade (Natal, Séculos XIX-XX). Historia Ambiental Latinoamericana Y Caribeña (HALAC) Revista De La Solcha, 14(2), 393–419. https://doi.org/10.32991/2237-2717.2024v14i2.p393-419

Edição

Seção

Artigos