Bovinos e Humanos na Transformação da Paisagem do Médio Vale do Rio Paraíba do Sul após o Café

Resumo

O declínio do café na região do Vale do Rio Paraíba, localizado na interseção dos estados de SP, RJ e MG, foi um processo relativamente rápido, assim como foi a sua entrada. Pela virada do século XX, a região, desmatada, com solo empobrecido e sem contar com a mão de obra de escravizados, entrou em acentuada decadência. A quase totalidade dos cafezais da região foi substituída por pastagens destinadas prioritariamente à produção de leite e carne. O trabalho pretende examinar a presença do gado durante e após o período do café na região, encontrando significativas evidências de uma agência, junto com os humanos, na transformação da paisagem. A agência geomórfica que os bovinos promovem nas pastagens é feita pela criação de caminhos pelo pisotear, que com suas trilhas, produz uma compartimentação do relevo de encostas declivosas, gerando os chamados terracetes, estabelecidos quase em curva de nível. Com o abandono das pastagens estes terracetes são dominados por Clidemia urceolata, espécie nucleadora que permite uma recolonização pela floresta. Assim, os bovinos, quando chegam, preparam a paisagem para a pecuária e, quando saem, a deixam modificada para a entrada da floresta. Tal regeneração natural resulta em uma vegetação florestal, cuja composição é influenciada pelo uso de solo centenário das encostas, constituindo uma resposta ecológica à história da paisagem.